“Aposto 20 coroas para saber qual de nossas esposas é a mais obediente, diz Lucêncio. Aposto cem vezes mais em minha esposa. Aquele cuja esposa for mais obediente, vindo assim que for chamada ganhará o prêmio, retruca Petruchio”. Aposta feita entre Petruchio, cuja esposa Katherine sempre se mostrou insubmissa e Lucêncio, cuja esposa Bianca era exemplo de candura e submissão ao homem. Ambos, Petruchio e Lucêncio, tinham o mesmo perfil comportamental de suas esposas.”
“Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho.”
Comédia e frase de William Shakespeare.
Quando Shakespeare escreveu esta comédia de costumes tinha a intenção de fazer rir e, ao mesmo tempo, criar paralelos entre comportamentos que fazem a diferença. Colocou dois casais, um comum, respeitoso das regras da época e totalmente submisso aos costumes. Outro insolente, desobediente, além do seu tempo em termos de comportamento e visão de vida, assim como Shakespeare.
Na vida das empresas temos o mesmo paralelo e, dentro delas, mais nítido, é este paralelo entre aqueles que se deixam enebriar pelo ambiente e navegam sempre em águas calmas e aqueles que, insolentes e buscando novas formas de vida e ação, agem com mais veemência em busca de resultados melhores. Aqueles fazem a empresa viver e andar; estes fazem as empresas crescerem mais que as outras.
Quando pensamos em Marketing pensamos em comunicação para certo público-alvo. Buscamos entender o que eles querem e procuramos entregar da forma como eles esperam que seja entregue, de serviços a produtos. Mas há marqueteiros (o termo é sempre bom e jamais tem teor pejorativo) que vão além, que buscam entender os consumidores além do seu tempo, buscam entender como será o perfil de consumo de diversos grupos e preparam a empresa para tal perfil. Buscam entender como será o mercado daqui a cinco anos e preparam a empresa e seus colaboradores para este tempo. Fazem do Marketing a bússola da empresa, sempre ligados com a área financeira e produção, braços direito e esquerdo do Marketing. Buscam entender, em conjunto, o quanto precisarão investir para se obter, depois de certo período, os resultados esperados.
Mas do que estamos falando na verdade? Falamos que empresas precisam ter Lucêncios em sua operação e Petruchios em seu planejamento de longo prazo. Precisam de marqueteiros inquietos com o agora e que, além de buscar vender mais agora, buscam entender como vender mais e melhor daqui a cinco anos. Seria isto possível? Bem, aí temos a Gerdau que há mais de 20 anos luta pela qualidade e responsabilidade social. Temos a Tramontina, que entendendo que produzir melhor não significa explorar a mão-de-obra, mas sim respeitar as regras e culturas locais e hoje produz nos Estados Unidos e é reconhecida pela qualidade e respeito ao meio-ambiente naquele país. Dois exemplos apenas de gente que faz, como há muitos neste país. Gente inquieta, que busca soluções inovadoras, que tem metas de inovação, que acredita que as soluções vêm de dentro, mas que é preciso olhar de fora para vê-las. Temos aqui a intenção de criar paralelos entre a candura e adequação social de Lucêncio e a vivacidade quase insana de Petruchio. Aquele buscava agradar e este buscava resultados. Aquele era liderado pelo pai da esposa e por seu pai, Batista e Lucentio, respectivamente. Este liderava sua vida a de seus empreendimentos. Buscava resultados.
Empresas devem se adequar ao lugar no qual atuam, mas devem buscar, ao mesmo tempo, resultados de médio e longo prazo, fazendo seu próprio destino, olhando o mercado com a bússola da inquietação, indo com a ferramenta da pesquisa e com a coragem de quem entende que na inovação está a vida, dos homens e das empresas. Ter a certeza de que as soluções estão dentro das empresas, mas que é necessário olhar de fora, com olhos desobrigados da rotina estafante das corporações. Se assim o fizermos conseguiremos domar a megera que pode se tornar o mercado, quando não nos vê inovando. Só teremos nosso mercado domado ou fiel quando formos capazes de fazê-los nos ter como inovadores, hoje e sempre. E só seremos inovadores se entendermos que o comportamento do futuro deve ser entendido agora.